Minha vida, de sólida que era, tornou-se um desmoronamento sutil de padrões, ideias e sensações.
Meu corpo, de limpo que era, tornou-se um mapa rabiscado várias vezes pela mesma letra.
Meu sorriso, de amplo que era, tornou-se uma ponte e uma placa de sinalização que avisa "permitido ultrapassar".
Meus olhos, de profundos que eram, transbordam agora um rio inteiro de saudade e esperança.
Meus sonhos, de altos que eram, tornaram-se estacas que prendem minhas conquistas ao chão e me protegem das tempestades.
Minha fé, de fraca que era, agigantou-se e fez sombra para todos os demônios da infelicidade que me aguardavam na esquina.
Minha cor, de pálida que era, coloriu-se de tantas cores quantas eram minhas expectativas.
Meu barco, de frágil que era, carregou-se de âncoras de certezas vacilantes, as melhores.
Minha casa, de simples que era, transformou-se em palácio dourado onde dorme a realeza sem coroa. Minhas palavras, de raras que eram, espalharam-se fluidas, jorrando pétalas de todas as flores que passaram a brotar em mim.
Meu silêncio, de sereno que era, inquietou-se e foi preenchido pela lembrança de cada fôlego e cada sussurro.
Meu espírito, de terreno que era, acomodou-se na nuvem mais alta, circundada de tantas canções quantas eram minhas incertezas.
Estas, por sorte, eram muitas.
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Não limpe os pés antes de entrar. Entre, acomoda-se e fique a vontade. A casa também é sua...