sábado, 24 de julho de 2010

Ela tem remexido na lama, procurado algo que nem mesmo sabe o que é. Sonhou por algumas noites o mesmo sonho, quem sabe isso seja um sinal de coisas mal resolvidas. Cansou-se rapidamente por pouca coisa e não achou mais tanta graça daqueles assuntos que antes eram tão divertidos. Ela agora tem procurado um espaço onde possa encaixar toda a sua angústia. Por muito tempo, usou seu ego como escudo. Burramente. Talvez a forma mais estúpida de se defender. Encontrou brechas no meio da guerra e pôde então se aventurar em outras fantasias. Criou suas próprias ficções. Era quase uma romancista de uma leitora só. Encantada com seus próprios personagens quase mitológicos, assustou-se quando estes criaram vida diante de seus olhos. Buscava agora os rascunhos de uma história inacabada. Não para terminar de escrever, mas para ler repetidas vezes até que a narrativa perdesse o sentido. Até que ela mesma perdesse o sentido. Começaria então a escrever outras. Mas não antes de longas férias. Ou não. Nada mais lhe era previsível. Tirou rápido a mão da lama, como quem toma um choque de realidade. Ela só queria sair correndo. Mas sabia que esbarraria em seus próprios muros. Então ficou imóvel, tentando escapar de sua própria dor. Não podia deixar vestígios para a solidão, essa fera selvagem capaz de farejar o menor resquício de medo e abocanhar todo o seu equilíbrio de uma só vez. Começou a pensar. Na verdade, nada era difícil nem perturbador. Era como tomar sopa quente, basta saber a hora certa de levar a colher à boca. E sentir um pouco de fome deixa sempre a comida mais saborosa.