quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Visão.

De dentro do ônibus eu o vi. Sentado na calçada, com as pernas esticadas na rua. A sola dos pés pretas e grossas, como solados. Cabelos altos, crespos e grisalhos. A barba era imensa, quase chegando no peito. Pele queimada pelo sol. Muitas rugas ao redor dos seus olhos atentos. Vestia trapos bem sujos. Ao seu redor muitas sacolas de lixo, restos espalhados pelo chão. Um pé de sapato solto na calçada. Um saquinho menor com restos de comida que provavelmente seria sua próxima refeição. Um cobertor dobrado encostado no muro da casa e um grande papelão. Uma resvista aberta sendo folheada cuidadosamente pelo mendigo. Seus olhos brilhvam. Aquilo parecia um presente para ele. Folhas coloridas, informações, fotos, ilustrações. Por ali ele via um mundo diferente do seu. Será que sonhava com uma vida diferente? Ou apenas admirava as fotos das belas praias? Será que imaginava que aqueles lugares seriam reais? Quem há de saber? As perguntas brotavam na minha mente. Será que ele ainda tem familia? E se tiver, onde estarão? Por que ele vive na rua? O que terá feito para estar nessa situação? Será que ele tem fé? Onde está Deus? Será que Deus realmente existe? Queria ter conversado com o mendigo. Queria respostas para minhas perguntas. Queria poder ajudá-lo. Queria aprender com aquele homem por traz da pobreza. Cinhecer sua alma, sua essencia, sua verdade. Mas o onibus seguiu viagem... E eu também...