quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Mas não é, com certeza o meu país!
Tô vendo tudo! Tô vendo tudo!
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo.
Um país que as crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é que domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram-se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país
Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos incorretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não tem voz, não tem vez, nem diretriz
Mas corruptos tem voz, e vez e biz
E o repalto de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é, com certeza, o meu país
Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar 'pornofonês'
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do carnaval
Mas não é, com certeza, o meu país
Um país que seus índios discriminas
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispões de raio-x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem agua da chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é, com certeza, o meu país
Tô vendo tudo! Tô vendo tudo!
Mas, bico calado, faz de conta que tô mudo
Um país que é doente e não se cura
Quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir da noite escura
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a politicos sutis
Que dividem o Brasil em mil Brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta
Pode ser o país do faz-de-conta
Mas não é, co certeza o meu país
Tô vendo tudo! Tô vendo tudo!
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo
(Zé Ramalho - O meu país)
Assinar:
Postagens (Atom)